Aí, que acordo hoje às 7:30, e tenho a genial
ideia de ligar pra Chiquinho* pra saber se ele poderia me dar uma carona até o
curso de inglês/trabalho. Era ele mesmo quem me daria as aulas, e eu sabia que
ele estaria de carro. Além do mais, eu tinha deixado a bicicleta por lá pelo
trabalho/curso de inglês ontem, e ir a pé hoje não estava nem um pouquinho
perto de ser cogitado. Enfim, liguei cheia de amor pra dar:
- Mô? - nem tinha voz ainda direito.
Aí, de repente, uma mulher responde:
- Oi, bom diaaa! Chiquinho pediu pra perguntar se
você quer que ele passe aí pra te buscar – tive um mini infarto na hora!
Rapidinho acordei. Como não morri, mantive a pose de gente serena, civilizada e
educada:
- Oi, pede pra ele passar sim, por favor.
Obrigada, tá? - desliguei. Meu mundo caiu.
Ainda deitada na cama, sem acreditar no que eu
tinha acabado de escutar, me vieram alguns pensamentos:
“Quem é essa vaaaaaaaca?"
"E PIOR! Ela é simpática! Que que essa mulher
tem que ser simpática?”
“O que que esse garoto tá fazendo SETE E MEIA DA
MANHÃ na rua já? E COM UMA MULHEEEEEER?”
“Eles estão vindo de onde a essa hora?”
“Será que ela é tão abusada que esperou ele sair
de perto e atendeu o telefone pra me mostrar que ela estava com ele?”
“PIOR!! Será que ele falou tudo da nossa vida e
até que a gente trabalha junto ela já sabe e mandou essa da carona pra me
afrontar?”
“Não, gente. Não pode. Ontem ele tava tooooodo
amoroso comigo, cuidando da minha dor de cabeça, querendo me levar pra comer
alguma coisa, me deu tanto carinho e agora me faz uma dessa? Ele não pode ser
tão #@$%¨#@#$%#@ assim não, gente! Ele não pode ser tão cínico.”
“Será que é alguém do grupo dos Amigos Palhaços
que tá com ele?”
“Mas e se for alguém de lá, porque ele não me avisou
que teria uma reunião com o pessoal hoje logo cedo?”
“PIOR! E se ele foi pegar as entradas pra festa de
Halloween que íamos buscar ontem com aquela garota que disse que esqueceu –
porque vai saber se esqueceu mesmo – que deixou os convites com outra pessoa -
de repente propositalmente - só pra ele ter que ir sozinho pegar outro dia com
ela? Gente, a mulher é bonita. Eu vi na foto no messenger. SOCORRO! Vou ter um
troço!”
“Certeza que não foi a mãe dele, nem a irmã dele que atendeu.”
“Vou mandar mensagem pra mãe dele como quem não
quer nada, perguntando se ela sabe de Chiquinho. Não, deixa pra lá. Vou aguardar
as explicações desse garoto.”
“Quem é essa vaaaaaaaaaaaaaca?”
Eu tava puta, o cabrunco, eu tava O CÃO chupando
manga! Queria dar na cara dele (!!!) mas, me levantei porque, né? Tinha que ir
pra aula e virar direto pra trabalhar. Daí me vem Billy todo serelepe pra eu
brincar com ele (não pode me ver):
- Não, Billy. Hoje eu não tô muito boa! Vai dar
pra brincar não. – fiz um cafunézinho no pobre coitado, que ele não é obrigado a
aturar meu mau humor diante dos meus problemas pessoais.
Fui pro banho. Cadê água? Sério?!
Fui pro banho. Cadê água? Sério?!
TÁ DE SACANAGEM!
Que dia (e olha que nem começou)! Liguei a bomba,
nada de subir a água. Desisti e dei graças a Deus por ter tomado banho ontem
depois que voltei da faculdade, porque a vontade era de cair durinha na cama de
tanta dor de cabeça. Vai sem tomar banho hoje mesmo nessa merda!
Telefone toca. Chiquinho.
“Vamos ouvir o que ele vai me dizer” – pensei –
“Não ataca agora não. Espera. Espeeeeeeeeera que ele mesmo se enrola e aí, você
pega no pulo!”
- Oi – eu atendi.
- Pra que essa secura? - ele retrucou.
- O que que houve? - ignorei a pergunta dele me
esforçando pra não estragar nada.
- Pode descer. Tô aqui embaixo com Mariazinha* te
esperando.
Não, ‘péra. PARA
TUDO!!!
“Geeeente, Mariazinha. Num tô crendo. Mariazinha que
trabalha com a gente, GENTE! Chamei ela de vaca nos meus pensamentos! Coitada!
Socorro! Me esqueci que Chiquinho dá carona pra ela quando vai de manhã e tá de
carro (antes mesmo de começar a dar carona pra ela, ele já havia me perguntado
- porque dependendo da situação, o outro pode não gostar ou se sentir ofendido,
e por isso a gente sempre pergunta - se tudo bem ele fazer isso, e eu mesma
disse que tudo bem! Lôca,
gente! Me esqueci das coisas que eu mesma concordei) pra coitada não vir de ônibus... cara, eu quase terminei tudo! PUTA QUE PARIU!"... E aí foi caindo nas
ideias que é óbvio que se o horário dele é às 8:00, às 7:30 ele já tem que
estar na rua. Me fiz de João sem braço, porque, né? Besta eu não sou, e segui a
conversa com a maior cara lavada:
-
Ah, vocês já chegaram? Achei que você entrava às 9:00 junto comigo. Confundi
com o nosso horário de sábado. Hoje sua primeira aula é às 8:00, né? – forcei
uma risadinha falsa daqui. Ele, debochado (com coerência, porque não é burro e
gosta de viver) forçou uma risadinha falsa de lá e, por fim, o liberei porque
eu sequer tinha me ajeitado ainda.
Quando
cheguei na escola/trabalho, saí contando pra todo mundo o bafafá e obviamente,
fui acolhida com muito amor pelas pessoas do sexo feminino que me apoiaram e me
entenderam unanimemente. Elas teriam feito a mesma coisa, se não pior, se por
acaso ligassem pro namorado/ noivo/ marido e uma mulher as atendesse sem aviso
prévio. Alguns desses homens nem estariam mais aqui pra contar história se
dependessem delas.
Concordo
e assino embaixo que minha exaltação foi completamente justificável porque eu
não sou obrigada a lembrar que o menino entra às 8:00 e muito menos que dá
carona pra Mariazinha. Sou? Pois é, não sou!
E aí, gente... foi isso.
E esse foi o dia em que fui traída... pelas minhas
próprias loucuras.
* Os nomes foram trocados para preservar a imagem dos indivíduos aqui citados.
Rachel